A tecnologia pode ser uma ótima aliada quando usada para fins pedagógicos, mas como fazer os estudantes entenderem isso sem gerar revolta e rebeldia?
Na última semana, o projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Alesp, proibindo o uso de celulares em escolas públicas e privadas de todo o estado, ganhou destaque, reacendendo o debate sobre o assunto. A medida restringe o uso dos dispositivos não apenas durante as aulas, mas também nos intervalos, e deve entrar em vigor no início do ano letivo de 2025. Embora a proposta tenha gerado debates sobre sua aplicação, é importante pensar quais serão os caminhos utilizados para que a lei seja implantada de forma eficiente e educativa, já que a tecnologia está cada vez mais presente em nosso dia a dia.
Para a psicopedagoga Andrea Nasciutti, essa é uma realidade que precisamos aprender: “O ideal é continuar usando a tecnologia, mas mediante a implementação de uma disciplina de Educação Midiática onde isso seja ensinado, de forma intencional e sistemática, como outras matérias do currículo escolar. Apontar quais são os meios, quais os perigos, como eu posso usar de forma segura… A escola se ocupa de ensinar sobre esse uso e, sempre que houver essa prática, que aconteça de maneira dirigida e orientada pelos educadores”, diz ela, que é membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral da UNICAMP/UNESP.
Apesar de boa parte da população ver essa proibição com bons olhos, se implementada de forma abrupta, a medida pode gerar um efeito negativo nos estudantes. Nesse caso, conversar pode ser uma opção mais acertada, ao invés de determinar que ninguém mais poderá levar o celular para a escola.
Muitas vezes, eles desconhecem os impactos negativos do uso desses aparelhos em um ambiente escolar, mas a partir do momento em que há esse letramento não só para o uso, mas para o uso consciente, de forma que eles entendem os perigos, os danos no cérebro ou com ameaças que podem surgir com conteúdos inadequados, a tendência é que haja uma aderência muito maior por parte deles”, afirma Nasciutti.
Consciência essa que, certamente, tornarão eles adultos mais saudáveis e menos dependentes do uso de telas. Nesse cenário, uma vez que a disciplina de “Educação Midiática” for implementada no currículo escolar, as escolas podem ensinar, de forma organizada e didática, algo muito comum para as novas gerações: o uso saudável de dispositivos tecnológicos. “Com a experiência que tenho nas escolas, vejo que os estudantes participam com muito empenho e levam muito a sério porque, para eles, isso é algo natural. Eles acreditam, fazem os trabalhos, eles entendem melhor e, mesmo que seja algo imposto por lei, para os alunos, quanto mais conversamos ao invés de impor que não levem mais os celulares, vai ser melhor”, diz.
“Entretanto, a falta de recursos das escolas públicas ainda é um problema presente na educação básica brasileira, fator que pode tornar essa transição do uso da tecnologia de forma consciente um pouco mais complicado:
A sugestão é que houvesse uma sala de informática, como existia antigamente, onde os estudantes possam usar computadores, iPads, portáteis, mas que sejam de posse da escola para uso dos alunos. Certamente as escolas particulares têm mais recursos. Porém, precisamos entender que a proibição dos celulares nas escolas é muito mais uma questão de saúde do que de aprendizagem. E que a posse deles pelos alunos prejudica a aprendizagem, mesmo quando a escola dispuser dos melhores recursos. Assim, esta medida beneficia a todos, tanto no que tange à saúde quanto no que tange à aprendizagem, seja na escola pública ou privada”, encerra.