Celso Sim e João Camarero homenageiam Elizeth Cardoso em álbum de voz e violão, lançado pelo selo CIRCUS e disponível em CD e todas as plataformas de streaming. São 16 faixas, entre elas canções e textos que vão de Noel Rosa a Davi Kopenawa. As gravações foram todas captadas em registro audiovisual de Daniel Capuruço, disponível no YouTube.
“Sem dúvida, Celso Sim e João Camarero prepararam uma homenagem bem diferente daquelas que já foram feitas a Elizeth. Ambos souberam traduzir em música e com um belíssimo repertório todo o amor que ela nutria pelo Brasil”, escreve Alaíde Costa no texto de apresentação do álbum. Celso Sim e João Camarero assinam conjuntamente a escolha do repertório, os arranjos, a direção e a produção musical.
O prólogo de Divina Dádiva-Dívida é enunciado por “A Queda do Céu”, texto de Davi Kopenawa e Bruce Albert, narração da antropogênese (ou nascimento dos homens) segundo mito yanomami: “Desejo, portanto, falar-lhes do tempo muito remoto em que os ancestrais animais se metamorfosearam e do tempo em que Omama nos criou, quando os brancos ainda estavam muito longe de nós”. Em “Aroeira” (Romildo Bastos / Toninho Nascimento), canção que abre o disco, nasce a voz do cantor: “Sou cantor porque / Aroeira, ê aroeira, já secou”. “Lançado pela cantora carioca no álbum “Feito em casa” (1974), o samba [..] passou despercebido pelo público. Tanto que jamais foi regravado. Até então”, lembra o jornalista Mauro Ferreira. O repertório também apresenta canções já bastante conhecidas na voz de Elizeth – é o caso de “Luz Negra” (Nelson Cavaquinho / Amâncio Cardoso), “Três Apitos” (Noel Rosa), “Chão de Estrelas” (Orestes Barbosa / Sílvio Caldas), “A Flor e Espinho” (Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito / Alcides Caminha), “Chega de Saudade” (Antônio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes).
“Acredito que a compreensão profunda da obra é que dá o norte para o caminho ideal. Recriar os mundos através de leituras que fogem da superficialidade óbvia é, de certa maneira, continuar o legado artístico e continuar desenrolando o mesmo fio da história”, comenta o violonista João Camarero.
Elizeth Cardoso faria 100 anos em 2020. Sua trajetória musical se funde com a formação cultural do país e é desse nó que “Divina Dádiva-Dívida” trama sua rede. “Divina é o codinome de Elizeth. Dádiva-Dívida é o Brasil. Divina Dádiva-Dívida é a Elizeth Brasil Cardoso: o Brasil profundo sem fundo, a divina dádiva da esperança que é, também, dívida. A dádiva-dívida como herança”, diz Celso Sim.
Celso e João colocam as canções em diálogo com o tempo de agora, fazendo atravessá-las constantemente o passado e o presente. “Uma história do Brasil que não cessa de futuros”, escrevem. “De Manhã” (Caetano Veloso), a última faixa do disco, embora conhecida, não é óbvia no repertório de Elizeth. O samba, como arremate do disco, lança a obra da cantora à luz de um outro dia, amanhecido e divino:
“E foi por ela
Que o galo cocorocô”
Divina Dádiva-Dívida
Celso Sim e João Camarero