Felipe Brêtas, produtor de “O Último Animal”, fala sobre os desafios de retratar o jogo do bicho

Filme estreou nos cinemas em 7 de março e denuncia desigualdades sociais enquanto aborda o crime organizado no Rio de Janeiro

O filme “O Último Animal”, que estreou no circuito brasileiro em 7 de março, explora o cotidiano do crime organizado na cidade do Rio de Janeiro. A produção, uma colaboração entre Brasil e Portugal, é assinada pelo diretor Leonel Vieira e toca em um tema de grande popularidade, não só atualmente, mas sempre presente no imaginário dos cariocas: o jogo do bicho.

A produção, inclusive, precisou de conhecimento local na equipe, e foi o cineasta Felipe Brêtas quem aceitou o desafio como produtor executivo e co-produtor.  

— Leonel precisava de um produtor local que conhecesse o universo do filme e que tivesse know how para coordenar uma equipe internacional. Eu tinha acabado de produzir “American Thief”, de Miguel Silveira, um longa internacional rodado inteiramente em Nova York, e “Mão na Cabeça”, de Milton Alencar, produção nacional que aborda a chacina de Vigário Geral. Foi uma sinergia natural — conta Brêtas.

Felipe, que assina projetos também fora das salas de cinema, é show runner das séries “O Jogo” e “Rio”, ambas disponíveis no Amazon Prime Video, e diretor de “O Último Virgem”, no Netflix, entre outros trabalhos. No currículo, agora adiciona os festivais e prêmios que “O Último Animal” conquistou pelo mundo.

— Antes de entrarmos no circuito comercial, fomos selecionados para festivais nacionais e internacionais. Foram eles o Los Angeles Brazilian Film Festival, o Festival de Gramado, o Festival de Petrópolis, o Madrid International Film Festival, e o Festival de Cinema de Capri na Itália — enumera.

Além das exibições, “O Último Animal” também garantiu prêmios, Melhor Atriz Coadjuvante para Gabriela Loran no Festival de Petrópolis, e Melhor Ator Coadjuvante para Duran Fulton Brown no Madrid International Film Festival. O filme conta ainda com uma indicação ao prêmio Platino de Cinema Ibero Americano.

Abordar temas tão sensíveis não foi fácil, e elementos necessários para o desenrolar da trama precisaram de atenção na hora de sair do papel para a frente das câmeras. Para o produtor, desafios não deixaram de marcar o processo de filmagem.

— As cenas de perseguição de troca de tiros em comunidades, com certeza, foram difíceis. As sequências complexas rodadas nas escolas de samba também. Podiam chegar a até 300 pessoas sendo coordenadas, entre equipes e figurantes — conta Felipe.

Essa não é a primeira vez em que Brêtas busca traduzir questões reais para a tela grande. O produtor acredita que o cinema é um veículo poderoso para a adaptar os fatos em uma narrativa cativante e mostra-los de uma forma acessível.

— Trabalhar com temas que abordam violência urbana é um desafio que deve ser levado em consideração, mas acredito que o mais importante é ter muito respeito sobre os temas abordados. O cinema tem essa característica em todo o mundo, de pegar assuntos complexos e criar obras primas memoráveis. Exemplos disso são os filmes “O Poderoso Chefão” e “Cidade de Deus” — explica.

Para Brêtas, o audiovisual tem a capacidade de ultrapassar as barreiras do entretenimento, e pode inspirar reflexões importantes que levam a impactos sociais positivos.

— Me interessa produzir histórias com as quais a sociedade pode se mobilizar para promover o debate, ou se organizar em prol de uma mudança positiva. Eu acredito que o cinema é uma ferramenta muito importante para a mudança, e para ampliar ação concreta da sociedade acerca de um tema — analisa Felipe.

Além da produção luso-brasileira, Felipe trabalha com o diretor Milton Alencar Junior no filme “Mão na Cabeça”, em breve nas plataformas de streaming, que trata da chacina de Vigário Geral. No projeto, Brêtas assume as posições de produtor executivo e distribuidor.

O documentário “O Sobrevivente da Candelária” também é um dos projetos ativos de Brêtas, e nele o produtor assina a direção e o roteiro. Rodado de forma espontânea, o filme acompanha o encontro entre Felipe e Nilson, um sobrevivente da chacina da Candelária, que até hoje vive sem qualquer reparação ou auxílio por parte do estado.

— Esse é um filme-manifesto que busca cobrar o papel do estado nessa reparação histórica, e ajudar o Nilson de forma prática ao arrecadar fundos. Não é apenas uma obra de entretenimento — reforça o cineasta.

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