Angela Soul reflete sobre amor e pertencimento em seu primeiro disco

Ouça aqui: https://youtu.be


Desde muito jovem, Angela Soul demonstrou paixão pela música e pela escrita. Começou a escrever poemas aos 11 anos e a compor canções aos 12. Com um processo criativo visceral e orgânico, onde a música flui de forma contínua, a artista coleciona uma série de músicas que, ao longo dos anos, foi construindo para o tão aguardado momento de registrar suas ideias em um álbum 100% autoral. O projeto, autêntico e emocional, conta com a produção de Gustavo Schirmer – conhecido por assinar a produção de Jovem Dionísio e Terno Rei.

Para esse trabalho, a estética escolhida caminha pela música popular brasileira, com alguns elementos do indie pop, reunindo, com muita delicadeza, instrumentos orgânicos com outros mais sintéticos. “Acho legal a maneira que Schirmer conseguiu colocar o que imaginei para as minhas canções. Eu consigo realmente sentir cada uma das faixas, de forma bem sinestésica mesmo… As cores, meu corpo caminhando pelas linhas melódicas. A construção parte, para mim e para ele também, de muita verdade e transparência. Nada é só comercial ou pensado apenas como um produto. “Angela Soul, Eu” é uma celebração da coragem de ser quem somos, de assumir nossas identidades e de amar sem julgamento”.

FAIXA A FAIXA POR ANGELA SOUL

“EU” 

“EU” é o poema que abre o disco. Escrevi-o assim que defini o nome do álbum. Ele surgiu de forma muito intuitiva, como tudo o que escrevo. Assim que o finalizei, percebi o quanto ele percorre o álbum. De certa forma, descreve um pouco de cada canção e o meu olhar sobre elas. Também serve como uma apresentação do meu “Eu” para quem irá ouvir. Optei por declamar o poema apenas no “silêncio”, sem nenhum instrumento acompanhando, para trazer proximidade entre mim e o ouvinte, como uma conversa íntima.

“Tão Perto”

Essa música foi uma das minhas primeiras composições quando aprendi alguns acordes no violão. O nome por si só diz muito sobre ela. Faço um convite para olhar mais para dentro de si e para o próximo. Faço algumas afirmações sobre a vida, suas dificuldades e complexidades, mas reafirmo a crença em um amanhã mais positivo. A sonoridade e as notas acompanham essa sensação. “Mas se você quiser voar com o vento a passar”, você realmente sente as notas passando sobre seus ouvidos como um vento soprando vagarosamente. Sempre senti que essa música poderia soar como algo no deserto, a sonoridade pedia algo semelhante ao filme do The Doors, em que Jim caminha no deserto em um momento alucinado. Também busquei uma sonoridade que remetesse a “Here Comes The Sun” dos Beatles (mesmo que apenas na minha cabeça), talvez porque eu coloque no refrão: “Por que não amanhecer, se você tem o sol só para você”.

“Namorada”

Essa música é um respiro, muito leve, quase um romance adolescente. Compondo-a após assistir ao filme “Juno”, inicialmente, eu pretendia até nomeá-la assim. Começo de forma sutil, com um questionamento delicado e fofo: “Por que você não entende nada? É que eu quero ser sua namorada…” Porém, na segunda parte da música, mergulho mais profundamente. No refrão, abordo a simplicidade desse sentimento. Inicialmente, imaginei uma sonoridade mais voltada para um violão no estilo folk, pois foi assim que a compus, com uma batida delicada. Entretanto, depois entendi que poderia seguir um caminho mais pop, até indie pop. Com uma bateria mais marcada, um refrão com riffs de guitarra mais viciantes e um vocalize “na na na” mais provocativo, quase como um deboche, traduzindo um pouco da sensação das nossas primeiras paixões intensas, imaturas e bonitas.

“E Agora?”

Essa música é muito interessante, pois conta a história de um amor que nunca aconteceu. Consigo me imaginar dançando em volta da fogueira que descrevo na letra, uma história nunca vivida, algo que talvez tenha ocorrido em outra vida. Quando a compus no violão, lembrou-me daqueles filmes americanos com encontros ao redor de uma fogueira, onde todos cantam juntos, sabe? No entanto, ao mesmo tempo, eu queria transmitir a sensação dos passos dados, do caminho percorrido nessa história. Assim, incluí pequenas pausas quando a descrevo: “Eram beijos, e abraços, eram laços apertados”. Sonoramente, é possível sentir o momento em que cada coisa acontece. Quando falo sobre dançar na fogueira da vida e cantar a nossa história não vivida, permito que os acordes e melodias se tornem mais livres, como uma valsa, como se o corpo se entregasse a essa dança da vida e às escolhas nem sempre vividas.

“Sorrindo à Toa”

Essa música é repleta de mensagens inspiradoras, e desejo que as pessoas, ao ouvi-la, sorriam automaticamente, dancem, se entreguem e acreditem mais no positivo. Quando a compus, estava passando por um momento triste. Portanto, a melodia no início é mais tímida e fechada. No entanto, durante a composição, percebi que poderia sorrir diante da tristeza. Musicalmente, abri mais as notas, trazendo positividade. Quando menciono “seus olhos” na letra, refiro-me não apenas a um amor, mas a qualquer pessoa com um sorriso fácil e energia positiva. Observar essas pessoas de perto, com mais atenção, pode nos abrir para um mundo de infinitas possibilidades positivas.

“Alma Nua”

O título já diz muito, trata-se de amor, um amor entregue por inteiro. Mas também abordo a fuga e o medo desse amor tão completo, que nos pega de surpresa e nos vemos completamente entregues a ele. “… Estou entregue a você, será que só eu que não pude perceber, sou todinha sua, boca, corpo, alma, nunca…” Essa música narra uma história de amor, onde compartilho minha perspectiva sobre o relacionamento com minha esposa e meus sentimentos em relação a esse amor. Quando comecei a escrever, percebi que a música teria um enredo específico e uma sonoridade que o complementaria. Inicio com a afirmação da entrega ao sentimento, cantando suavemente “nunca pensei em amar tanto assim” para expressar meu estado relaxado e feliz por amar dessa forma. No refrão, busco dar mais ênfase e força na textura vocal, narrando a história e tentando transmitir as sensações vividas. A parte que me toca profundamente em termos sonoros é quando afirmo: “Eu sempre andei na contramão, mas corri pra te dar meu coração”. Musicalmente, parece que os instrumentos dão uma “relentada” no andamento, especialmente na parte da “contramão”, e logo em seguida aceleram na parte do “mas corri pra te dar meu coração”. É algo que pode ser nitidamente sentido.

“Solidão Bateu à Porta”

Encerro o álbum com a música mais densa, que aborda o término de um relacionamento e a sensação de solidão. No entanto, a batida é mais sensual, com elementos de soul, R&B e jazz. Essa é uma das minhas músicas favoritas do álbum, pois me identifico com esse estilo musical desde a minha infância.

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