Heder Novaes lança o primeiro EP do projeto “Episódios Poéticos”


“Take the Vision” é composto por 6 faixas que pautam, combinando música e a palavra, questões raciais e a relação das pessoas em situação de vulnerabilidade social

Ouça aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/album/0AlCfBtJ3wQ6XTYvYmXR7s?si=YP6rxSP7RfqA4-iDfNFN1w

O multiartista Heder Novaes lança seu “Episódio Poético” combinando a música e a palavra como ferramentas de expressão e reflexão. Inspirado por suas próprias experiências como pessoa preta, Heder dá voz às inquietações e pauta questões raciais a partir de suas vivências. 

O primeiro EP do projeto, intitulado “Take the Vision”, é composto por 6 faixas e oferece um recorte de realidades, um convite para questionar a forma como a tecnologia se relaciona com o mundo e como as pessoas assimilam esse processo. Também retrata, de forma incisiva, questões raciais e a relação das pessoas em situação de vulnerabilidade social que atravessaram o período pandêmico. É um espaço onde, verso a verso, os questionamentos são colocados à mesa. 

O lançamento do EP acontece dentro do Laboratório de Criação, uma iniciativa que usa as dimensões da Metodologia Elos (Potencial, Pertencimento e Protagonismo) para mapear recursos, talentos e sonhos com foco na reestruturação e reposicionamento institucional de coletivos culturais. Com realização do grupo oCartel, formado por artistas negros das periferias de Salvador, o projeto piloto é apoiado pela chamada Jovens Ideias, promovido pelo Instituto Elos.

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1 – Realidade Virtual
Realidade Virtual é um  prólogo, presságio, anúncio. Fala da realidade pandêmica, da ausência do toque nas relações, que cresceu neste período. Suscita, convida e  propõe a reflexão. Fala do quão é importante e necessário olhar para nossos ancestrais.

2 – Pulsa
A música se desenha a partir de batimentos cardíacos, encontra o drill e o pagode, no que se refere a sonoridade e faz em sua letra uma afirmação sobre a certeza de estar vivo. É uma constatação constante ante a iminência da morte, que perpassa diariamente os corpos negros no Brasil. A música propõe um questionamento: A minha dor interessa a quem? Será que a dor do povo negro interessa? Questionar, dentro de uma atmosfera dançante é tornar palatável tudo o que historicamente é impossibilitado de colocar ao mínimo grau de reflexão.

3 – 23
A canção nasce de uma inconformação e uma substancial revolta. O título da música é um relato de um retrato histórico e datado no Brasil. A cada 23 minutos um homem negro morre neste pais. A música chega como um grito, uma forma de evidenciar a realidade, ante tanta violência perpetrada constantemente contra a população menos favorecida. Há na letra também uma menção a pandemia, que tornou ainda maior o abismo social.

4 – A Era da Massa
A Era da Massa nasceu a partir de uma fotografia, uma ideia de fotografar crianças da rua onde cresci (rua da comunidade, situada na cidade baixa de Salvador, BA)  com livros na mão ao invés de armas, e trazer essa reflexão para essas crianças, mostrando a elas uma realidade diferente e melhor possível. A letra fala um pouco da realidade de quem é diariamente abordado, onde se confunde guarda-chuva com fuzil. Onde é comum o tiro de advertência.

5 – Canta Galo
Canta Galo nasce durante uma visita ao Rio de Janeiro, hospedado num airbnb, num prédio que delimita o início da “área nobre”, mas que visualmente dava acesso ao fundo do morro do Cantagalo, que estava sendo invadido numa “dita” operação policial, causando pânico às pessoas que ali viviam e que de alguma forma eram fetichizadas pelas pessoas nos outros andares do prédio, que filmavam tudo que acontecia. Um cenário caótico e o que tinha acesso era apenas o fundo, o fim do morro. Noção nenhuma eu tinha do que de fato ocorria e o que pude fazer foi escrever. 

6 – Palavra Bruta 
Palavra Bruta nasce como um grito, um respiro diante de consecutivas situações de racismo vividas por mim ao longo da minha vida e sobretudo por situações vividas inicialmente de forma recreativa por um amigo muito próximo, até o momento em que a agressão verbal e o racismo ficaram cada vez mais presentes. A palavra e a escrita chegaram como uma fuga, uma forma de não carregar ainda mais um psicológico abalado por uma rotina corrosiva. Consegui formatar visualmente como me senti e como me sinto, quase que de forma didática.

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