Espetáculo expõe a urgência dos saberes ancestrais afro-indígenas para os dias de hoje


QUEÑUAL, da Cia Pé no Mundo, permanece em cartaz até 18 março, em São Paulo, com datas no Teatro Flávio Império. Os ingressos são gratuitos 

FOTO POR JOSÉ DE HOLANDA @josedeholanda_-5509.jpg

Foto: José de Holanda 
Cia. Pé no Mundo estreia QUEÑUAL – TRAJETÓRIA E CRIAÇÃO, em fevereiro, na cidade de São Paulo. O espetáculo é um ponto riscado de reflexões sobre a diáspora africana e a relação com os povos originários nas questões ambientais da América Latina. “Enquanto artistas negros, estamos partindo de nossas próprias vivências, observações e inquietações de mundos, para criar e contar novas histórias, horizontes e imaginários intimamente relacionados às noções de diásporas, cultura, identidade, identificação, resistência e pertencimento”, comenta o bailarino Roges Doglas. A companhia  no Teatro Flávio Império, 17 e 18/03. Os ingressos são gratuitos.

QUEÑUAL é um texto-dança conduzido por dois personagens que se imaginam numa história contada por um mestre ancião. Nesta jornada, eles passam a se questionar o porquê de serem brasileiros os colocam distantes de noções de identidade sul-americana, latino-americana, amefricana. A obra também acende o protagonismo das culturas afro-indígenas frente às soluções climáticas. “Para os nossos ancestrais, não havia diferenças entre seres humanos e natureza, é um corpo só, íntegro. Então, a natureza sempre foi respeitada, reverenciada e entendida como parte de nós. O cuidado com o meio ambiente tem que assumir a inteligência ancestral”, comentam Cláudia Nwabasili e Roges Doglas, idealizadores, diretores, coreógrafos e bailarinos da Cia. Pé no Mundo.

QUEÑUAL é livremente inspirado pelo texto teatral homônimo, originalmente criado para a companhia, do dramaturgo Gabriel Cândido.

“Como artistas negros e brasileiros, observamos que há uma lacuna ainda a ser vencida relacionada aos referenciais culturais, corporais e artísticos que tragam como centro de discussão e abordagem a nossa identificação ancestral. Os referenciais muitas vezes não são abordados nos estudos oficializados e formações profissionais de dança. O que não faz nenhum sentido, pois essas referências além de interferir na formação das nossas subjetividades, necessariamente devem e podem ser fonte de pesquisa, criação, construção corporal técnica, em todos os níveis de convivência social, dentro e fora dos âmbitos educacionais ou das instituições culturais vigentes. A realidade que se faz urgente é trazer para o mundo o nosso mundo. (Re)apresentar histórias omitidas, direitos e protagonismos roubados, retomar o espírito coletivo e colaborativo dos nossos povos, fazer com que a dança valorize a diversidade das nossas narrativas históricas e o complexo cultural que o identifica e o compõe”, completam os artistas.

A trilha sonora é assinada por Gustavo Souza e executada pelos músicos Marcelo Monteiro e Estevan Sinkovitz, com participação especial da cantora Alessandra Leão. A cumbia, o guerra e o perré dos caboclinhos, o carimbó e as guitarradas são manifestações culturais que influenciaram o processo de criação coreográfica e que marcam forte presença musical no espetáculo.

Além disso, a cia., inaugurada em 2012, publica um fotolivro de sua trajetória de 10 anos: “Recontá-la é principalmente partilhar conhecimentos sobre processos criativos, metodologias de investigação e experimentações”, diz Cláudia. Neste ano, as atividades da companhia serão ampliadas ao ESPAÇO MUNDO CORPO, tornando-se sede do grupo. O espaço irá acolher a rotina de ensaios e diferentes ações da Cia. Pé no Mundo, assim como agregar novos serviços, práticas corporais e atividades oferecidas ao público.

O projeto QUEÑUAL – TRAJETÓRIA E CRIAÇÃO foi contemplado pela 31ª edição do Programa de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo.

SERVIÇO

QUEÑUAL – TRAJETÓRIA E CRIAÇÃO

Teatro Flávio Império

(Rua Professor Alves Pedroso, 600 – Cangaíba, São Paulo – SP)

17 e 18 de março.

Sexta e sábado, às 20h. 

Ingressos gratuitos.

SOBRE A CIA PÉ NO MUNDOA CIA PÉ NO MUNDO, foi inaugurada em 2012 e tem como idealizadores, diretores e coreógrafos os bailarinos Cláudia Nwabasili e Roges Doglas. Artistas brasileiros que fundaram a Companhia na busca por representatividade negra no cenário da arte contemporânea. Temos como objetivo a reconstrução de imaginários acerca dos corpos negros na dança contemporânea e, como compromisso, ser fiéis ao pensamento estético e ideológico da companhia, calcado em uma pesquisa que valoriza: O diálogo entre manifestações afro-indígenas brasileiras, a dança contemporânea e as diferentes manifestações originadas a partir das diásporas negras forçadas e voluntárias ao redor do mundo e através dos tempos. Tem em seu repertório os espetáculos “Peramulambo”, a aula-espetáculo “Dança Brasileira: Da Tradição à contemporaneidade”, “Arquivo Negro – Passos Largos em Caminhos Estreitos”, a intervenção “Fora da Caixa – Repertórios Corporais Cia Pé no Mundo”, “Ecos de ‘Arquivo Negro’ – Breves cenas em videodança”, a websérie “Traduções Simultâneas: Corpo, Música e Pensamento complexo” e a criação audiovisual “Ato Perene: O processo como obra” .

Em 2012, o espetáculo “Peramulambo” foi vencedor em três categorias do Festival Curta Dança realizado pelo SESI-SP: melhor bailarino (Roges Doglas); melhor coreógrafa (Cláudia Nwabasili) e segundo melhor espetáculo do Festival. Em 2014 e 2015, após ser contemplada pelo Programa para Valorização de Iniciativas Culturais em São Paulo/Brasil, a companhia realizou uma temporada de “Peramulambo” em diferentes teatros da cidade. Em 2016, seus criadores foram aceitos pelo Conservatório Profissional de Dança de Sevilla/Espanha, pelo Balleteatro e Companhia Instável do Porto/Portugal para a realização de residências artísticas, laboratórios coreográficos, masterclasses e workshops. Em 2017/2018 sob a contemplação do Fomento à Dança para a cidade de São Paulo, a Companhia desenvolveu o projeto “Arquivo Negro – Passos largos em caminhos estreitos”. Em 2019 a Cia Pé no Mundo, foi convidada pelo SESC São Paulo, para realizar uma intervenção coreográfica na exposição ”Objetos Coreográficos” de William Forsythe. Ainda em 2019 a Companhia realizou uma temporada internacional do espetáculo “Arquivo Negro – Passos largos em caminhos estreitos”, passando por 4 cidades de Portugal. Em 2020 a Companhia integra a nova temporada do programa “Dança Contemporânea” da TV SESC. No mesmo ano, a Companhia desenvolve o projeto “Traduções Simultâneas: Corpo, Música e Pensamento Complexo”, contemplado pela 26ª Edição do Programa de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo. Websérie indicada ao prêmio APCA DANÇA 2020 e vencedora do Prêmio Denilto Gomes 2020.

Em 2021 a companhia é convidada pela UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para desenvolver o projeto audiovisual “Ato Perene: O processo como obra”, trabalho inédito para o Festival UNIMÚSICA.

Em 2021/2022 com o Projeto “QUEÑUAL-TRAJETÓRIA E CRIAÇÃO” a companhia é contemplada pelo Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo. Ainda este ano, a Cia Pé no Mundo é contemplada pelo PROAC – PRÊMIO POR HISTÓRICO DE REALIZAÇÃO EM DANÇA (2022). Também em 2022 iniciaram o projeto-pesquisa “S.A.L – Subverter a Lógica”, durante residência artística na Cité Internationale des Arts em Paris, bolsa concedida por meio do projeto Brasil Cena Aberta em parceria com a Prefeitura de Paris e o Consulado da França.

FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO

Direção e coreografia: Cláudia Nwabasili e Roges Doglas
Assistência e acompanhamento de pesquisa teórica: Mariana Queen Nwabasili Ensaiadora: Suzana Mafra
Roteiro: Gabriel Cândido
Elenco: Cláudia Nwabasili, Roges Doglas Thayná Oliveira e Wesley Peixinho
Bailarinos aprendizes: Gabriela Bertulino e Pablo Souza
Preparação Corporal (permanente): Cláudia Nwabasili, Roges Doglas (Danças Contemporâneas e afro-indígena brasileiras) e Sylvia Fernández (Pilates)
Oficineiras: Maju Tóffoli (técnicas acrobáticas) e Roxana Suarez (Danças afro caribenhas) 

Direção Musical e arranjos: Gustavo Souza
Voz: Alessandra Leão
Sopros: Marcelo Monteiro
Guitarra, baixo e violão: Estevan Sinkovitz
Bateria e percussão: Gustavo Souza
Figurino: Karla Pê
Co-criaçao de figurino: Magnum Ladeira
Criação/confecção de máscaras: Vlad Victorelli
Iluminação: Rossana Boccia
Operador de som: Pedro Simples
Cenografia/objetos relacionais: Juliana Prado Godoy
Cenotecnicos: Zang e Vinicius Assis
Registro fotográfico: José de Holanda
Criação audio-visual: Osmar Zampieri
Programação Visual: Cássia Yebra
Assessoria de Imprensa: Assessoria Bianco – Yasmim Bianco
Produção: RADAR CULTURAL Gestão e Projetos/ Solange Borelli
Equipe de Produção: Maju Tóffuli e Fabiano Savan 

Este projeto foi contemplado pela 31ª edição do Programa de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo.

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