Um mês de realizações para Reinaldo Junior. Na quarta-feira (1), o ator estreou como protagonista na série “Cinema de Enredo”, no canal Prime Box Brasil. Além disso, acaba de receber a indicação de “Melhor Ator”, no Prêmio Shell de Teatro Rio 2023, por seu primeiro solo no espetáculo “O Grande Dia”, realizado pela Confraria do Impossível, com texto e direção de André Lemos. O artista de Mesquita, na Baixada Fluminense, tem conquistado cada vez mais espaço e reconhecimento – seja no teatro, cinema, televisão ou plataformas de streaming –, através de projetos que transbordam sua pluralidade e sensibilidade.
Dirigida por Luiz Antonio Pilar, a série “Cinema de Enredo” conta com dez episódios independentes, cada um inspirado em um samba-enredo diferente. Essas histórias se passam entre a sexta-feira de carnaval e a quarta-feira de cinzas. Reinaldo protagoniza o episódio “Três Vezes Malandragem – Lapa em Três Tempos, Portela, de 1971”, dividindo cena com grandes nomes como Gisele Itié e Wilson Rabelo. Três gerações criadas na Lapa protagonizam a história: avô ( Rabelo), filho (Reinaldo) e neto (João Vitor Felix). O menino é fruto de um amor de carnaval do filho com uma gringa (Giselle Itié), que sumiu logo que a criança nasceu. Depois de anos longe, a mulher reaparece causando muita confusão.
Marcada pela diversidade, “Cinema de Enredo” contém mais de 100 pessoas pretas dentro e fora da cena. O elenco foi escolhido a dedo pelo diretor e equipe, reunindo os maiores atores de diversas gerações no mesmo trabalho, dentre eles Antônio Pitanga, Elisa Lucinda, Vilma Melo, Kelson Succi, Léa Garcia, entre outros.
Já no espetáculo “O Grande Dia”, Reinaldo Junior domina o palco, evidenciando a sua capacidade artística. “É um solo sobre homens negros: avôs, pais, filhos, companheiros, famosos, anônimos, trabalhadores, intelectuais, vivos ou mortos, não como objetos de estudos, mas como protagonistas das suas próprias histórias, narrativas e vivências. Do nascimento até o presente momento, das travessias de ruas da Chatuba de Mesquita até a cidade de Pequim, na China”, ele explica.
Conduzindo o espectador e o público para um olhar mais profundo e humanizado sobre a complexidade e as camadas de uma vida negra masculina, Reinaldo recebeu a indicação de “Melhor Ator” no Prêmio Shell de Teatro, que teve a sua primeira edição em 1988, mas somente na 14° edição no ano de 2001 que o primeiro negro foi o vencedor na categoria de “Melhor Ator” com Milton Gonçalves, no espetáculo “Conduzindo Miss Daisy”. Em 2023, dezoito anos depois, quatro atores negros estão concorrendo ao prêmio com a possibilidade de ter o segundo ator laureado. Com a mudança no corpo de jurados, incluindo jurados negros, negras e negres, o prêmio recebe um olhar mais crítico e amplo sobre a real diversidade no Brasil. Não à toa, essa 33ª edição já é um marco por conta de suas indicações que incluem mais pessoas pretas.
Emocionado com a conquista, Reinaldo destaca como a indicação é importante. “Ser indicado a esse prêmio é um reconhecimento importante e bem representativo para as pessoas que vêm do mesmo lugar de onde eu venho, é uma referência para meninas e meninos pretos projetarem seus sonhos através da arte, é essa referência que quero deixar, porque afinal é tudo sobre Nós”, ressalta.
Co-fundador da “Confraria do Impossível”, empresa artística negra que intervém nas ruas e eventos culturais e políticos no Rio de Janeiro desde 2009, proporcionando movimentos artísticos importantes para a cidade e o país, e também gestor do Teatro Chica Xavier, ele destaca que essa é uma conquista coletiva. “Teatro não se faz sozinho e por isso quero ressaltar a importância de toda equipe da Confraria do Impossível que construiu e contribuiu para essa obra, a toda comunidade mesquitense e principalmente ao nosso ancestral e referência Rubens Barbot (em memória)”, ressalta
Reinaldo Junior possui mais de quinze anos de trajetória como ator. Nascido e criado na Baixada Fluminense, na cidade de Mesquita, um lugar que embora ainda tenha pouco investimento público em cultura, é um celeiro de artistas potentes. “Sou fruto de um novo tempo de artistas e pensadores inquietos, que buscam dar continuidade e acender um farol em narrativas que enaltecem a cultura e personalidades negras, dando continuidade a um legado de lutas, conquistas e muita excelência para as próximas gerações”, ele se orgulha.