Aline Borges, a Zuleica de Pantanal, fala sobre racismo e identidade

Uma das estrelas da novela da Globo relatou o processo de reconhecimento como uma mulher preta e a aceitação da sua ancestralidade e seus traços.

Aos 47 anos de idade, Aline Borges trouxe um debate muito importante sobre a sua personagem na novela Pantanal. Na versão original dos anos 90, Rosamaria Murtinho esteve na pele de Zuleica. Hoje, diante de diversos debates sobre representatividade na arte, Bruno Luperi optou por inserir um núcleo com atores pretos na novela.

“O Bruno Luperi, nosso autor, é um homem consciente e antirracista. Ele optou por trazer essa família preta para discutir questões que são mais do que urgentes”, afirma a atriz, que interpreta a segunda mulher de Tenório. “Quando era criança, minha mãe botava pregador no meu nariz para que ele ficasse fino. Isso é uma violência que deixa marcas. Minha mãe não fazia isso sabendo era uma violência. Ela não tinha consciência disso. Neguei o meu irmão gêmeo por ter vergonha da negritude dele, da nossa negritude. Isso é muito cruel. Dei o endereço errado do colégio para ele porque fiquei com vergonha daquele irmão preto chegar na porta da escola”, relatou para a revista Quem.

“É uma luta que ainda precisa ser muito debatida para que a gente tenha um progresso lá na frente. Talvez a minha neta veja um progresso que eu não vi, que minha filha não viu…Infelizmente, a gente não tem um governo que entenda a necessidade de expansão de consciência de abraçar a luta antirracista. O racismo estrutural é muito bem enraizado. Muita gente fala que não é racista e que nossa luta é mi-mi-mi. Enquanto tiver pessoas pensando dessa forma, a luta se torna ainda mais vagarosa. A educação antirracista é importante desde a infância para que a gente tenha seres humanos conscientes da necessidade de transformação”, finalizou.  

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