(Foto: Carol Bittencourt)
Apontado como um dos principais criadores dessa geração, Felipe Senna apresenta sua primeira ópera no Theatro Municipal de São Paulo. Baseada no libreto de Mário de Andrade para CAFÉ, com adaptação de Sérgio de Carvalho, a obra conta uma história atemporal de desequilíbrio social e revolta, entrelaçando – por meio de uma linguagem musical contemporânea – as paisagens sonoras do tempo retratado e dos dias atuais.
Estreia está programada para acontecer na próxima terça-feira, dia 3 de maio, seguida de quarta (4/05) e sexta (6/05), sempre às 20h. Durante o fim de semana, sábado (7/05) e domingo (8/05), a sessão começa às 17h. Entradas vão de R$ 10,00 a R$ 120,00.
Em ‘CAFÉ’, música lírica e sinfônica se encontram com o samba de cururuquara, a caiumba, o catira e o jongo. O choro surge como “ponto de intersecção sociocultural” e importantes vozes da cena nacional, notadamente não líricas, são convidadas para conversar com a ópera: Juçara Marçal e Negro Leo. Além do elenco e grande orquestra (OSM), a produção conta com a participação do Balé da Cidade e a colaboração do Coletivo Nacional de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. “Essa é uma leitura atual de um texto moderno em seu tempo (1942)”, diz o compositor.
Brasileira, encomendada pelo próprio Theatro Municipal após um hiato de 111 anos, a ópera celebra o importante legado cultural de Mário de Andrade neste centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, enfatizando a importância desta que é uma figura catalizadora na cultura de nosso país e um dos grandes incentivadores da busca por uma linguagem nacional na produção tida como ‘culta’ (a música de concerto). “Ele produziu textos importantes nos quais transparece a vontade de reconhecer e valorizar a música do nosso povo, que fomentaram inclusive a escola nacionalista que viria a se formar. Mário criou o Quarteto de Cordas da Cidade sob esta filosofia. Criou também o Coral Paulistano – que protagoniza esta produção de CAFÉ. É impressionante que, um século depois da imensa contribuição de mestres como Mário de Andrade e Villa-Lobos, ainda estejamos aqui discutindo as mesmas questões como se tudo que fora demonstrado, conquistado e ensinado por estes mestres não houvesse existido: questões de pertencimento cultural e temporal, de construção e uso de linguagens artísticas que também dialoguem com a nossa realidade brasileira. Isto demonstra o quão problemática é a relação que temos com nossa própria cultura”.
Vale destacar que CAFÉ é a primeira ópera composta por Senna, que há duas décadas atua no universo teatral como compositor, diretor musical, regente, arranjador e orquestrador. Além das dezenas de peças que musicou no Brasil e exterior, sua trajetória inclui também passagens pela cena operística nacional, como sua adaptação de Porgy and Bess(irmãos Gershwin) em parceria com o diretor João Malatian (assistente de direção em CAFÉ); dirigida pelo duo e produzida no Theatro São Pedro, a montagem foi indicada ao Prêmio Carlos Gomes como melhor espetáculo de ópera de 2008. Senna atuou também como diretor musical assistente e orquestrador em A Tempestade (Ronaldo Miranda), encomendada e estreada pela Banda Sinfônica do Estado de SP e maestro Abel Rocha, premiada como melhor ópera experimental de 2006 pela APCA. Com sua produção sinfônica, Senna ganhou o 1º prêmio no Concurso de Composição Camargo Guarnieri (2007) e Ritmo e Som (2002), foi indicado ao Prêmio Governador do Estado de São Paulo e ao Golden Eye (Zurich Film Festival).
Senna rejeita rótulos como música popular e música erudita. “Estas questões pertencem à academia, que se preocupa em explicar fenômenos, geralmente sob um ponto de vista bastante europeu e histórico. Eu sou um músico, me ocupo do fazer musical. Escrevo para orquestra, câmara, grupo de metais com bateria ou qualquer que seja a formação e minha música só consegue ser brasileira e contemporânea. Como eu. Sobretudo, espero que as pessoas recebam minha música pelo que ela comunica, não pelos termos técnicos que explicam sua construção”.