Em entrevista ao Fantástico veiculada neste domingo (9), a influenciadora digital Shantal voltou a falar sobre as denúncias de violência obstétrica que relata ter sofrido no parto de sua segunda filha, em setembro do ano passado. As acusações contra o médico obstetra Renato Kalil vieram à tona em dezembro, por meio de um áudio de cerca de cinco minutos enviado a amigas, que depois circulou na internet.
Na gravação, Shantal diz que o médico usou palavrões contra ela durante o procedimento e expôs sua intimidade para o marido e para terceiros.
— Eu tinha alguns motivos para não falar. Além de não estar bem emocionalmente, eu não queria a imagem da minha filha exposta desse jeito, em um contexto de que a chegada dela foi horrível — disse ela na entrevista ao Fantástico, ao explicar por que ainda não havia se pronunciado sobre o assunto publicamente até o vazamento do áudio.
No programa, Shantal contou ainda que o médico teria chegado nas duas últimas horas do parto, apressado, e insistido na realização de uma episiotomia, procedimento que consiste em uma incisão no períneo, região entre o ânus e a vagina, para facilitar a passagem do bebê. A Cartilha da Violência Obstétrica, feita pela Promotoria Pública de Mato Grosso do Sul neste ano, coloca a realização da episiotomia sem necessidade como uma das formas de violência obstétrica.
— Foram 48 horas que eu fiquei no hospital. Eu acho que foi um trabalho de parto de aproximadamente umas 12 horas. Ele chegou somente nas duas horas finais. Foi quando mudou o clima, ele chegou muito apressado. Eu não entendi o porquê de tamanha pressa e aquela agonia toda. E ficava insistindo para o Mateus (Verdelho, marido de Shantal) para que fosse feita a episiotomia em um tom como se: “Olha aqui, vai rasgar aqui”. É onde a gente teria relações no futuro. “Então, é melhor eu dar um pique aqui, é melhor eu dar uma cortadinha aqui”. Ele fica falando isso para o Mateus como se eu não estivesse ali e como se a decisão não fosse minha — afirmou.
Segundo a influenciadora, o médico a teria “rasgado com as mãos” para fortalecer seu argumento a favor da episiotomia.
— Não tinha a menor necessidade de ele tentar me rasgar com as mãos e isso é feito várias vezes. Ele basicamente passa o parto inteiro fazendo esse movimento com a minha vagina, tentando abrir ela. Já que ele não teve o corte, ele tenta com as mãos — relatou.
Além disso, Shantal contou ter tido a barriga pressionada por dois profissionais a mando do médico para agilizar o nascimento da filha.
— A minha barriga foi pressionada desde o momento em que ele chegou. Ele pede para uma médica da equipe dele fazer essa manobra de Kristeller. E, depois, ele pede para o anestesista fazer, porque o anestesista era mais forte — contou.
A manobra de Kristeller consiste em uma pressão no fundo uterino e não é mais recomendada desde 2000 pelo Ministério da Saúde, ressaltou o presidente da Febrasgo, Agnaldo Lopes, para a reportagem do Fantástico.
— Quando a gente viu o vídeo (do parto) foi que caiu a ficha mesmo. A primeira atitude que a gente tomou foi de mandar ele para o Kalil e mostrar todas as partes onde a gente se sentiu agredido. Ele me deu uma resposta debochada e me bloqueou no WhatsApp. Ou seja, ele me calou, inclusive. Só que vendo todos os relatos que foram aparecendo depois, de histórias iguais e histórias muito piores, eu vi que realmente o buraco era mais embaixo — concluiu Shantal.
Ainda na reportagem do Fantástico, outras duas mulheres dizem ser vítimas de Kalil e o acusam de assédio sexual.
Em nota escrita pelo seu advogado, o médico Renato Kalil respondeu às acusações. Ele afirma que “lamenta profundamente que um caso médico seja discutido por meio da mídia e das redes sociais, com base em pequenos trechos editados de um vídeo” e que, em razão de normas éticas e sigilo profissional, não pode se manifestar publicamente, mas que isso será feito em “foro adequado”.
Kalil também afirma que não praticou violência obstétrica e que a edição dos vídeos e das falas “induzem ao erro de interpretação”. Diz que se coloca à disposição do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo para comprovar sua ética e retidão profissional, e está à disposição das autoridades para colaborar com todas as investigações.