A ginástica artística feminina mundial tem uma nova estrela. Depois de faturar duas medalhas, uma de ouro e outra de prata, na Olimpíada, Rebeca Andrade foi ao pódio outras duas vezes neste sábado (23) no Campeonato Mundial, novamente no Japão, em Kitakyushu. Após vencer no salto, repetindo o resultado de Tóquio, ela voltou ao tablado cerca de duas horas e quinze minutos depois para faturar a prata nas barras assimétricas.
A ginasta de Guarulhos (SP), que perdeu três Mundiais por lesões e só havia participado da competição uma vez, voltando de cirurgia, mostra que pode rivalizar com Simone Biles ou, na ausência da norte-americana, ser a grande protagonista da modalidade. Ela ainda faz final da trave no Mundial, amanhã, e é consenso que a brasileira só não fez pódio no solo e no individual geral porque foi poupada e não competiu.
Pensando no Brasil, os dois resultados são históricos por uma série de fatores. Nunca uma mesma atleta havia ganhado duas medalhas em um mesmo Mundial, naturalmente também não no mesmo dia. O país só tinha uma medalha no salto, com Jade Barbosa em 2010, mas de bronze, sendo o ouro de Rebeca o primeiro. Já nas barras assimétricas, que há muito tempo é o pior aparelho da ginástica brasileira, o país nunca havia subido ao pódio.
Esperava-se mais de Rebeca na final das assimétricas, porém a brasileira passou para a final com a melhor nota, disparado, mas não conseguiu fazer uma das ligações de sua apresentação na final. Perdeu 0,4 de nota de partida e recebeu 14,633, quase meio ponto pior do que havia feito nas eliminatórias: 15,100. Naquele momento, já era segunda colocada, porque a chinesa Xiaoyuan Wei abriu com 14,733.
Depois de se apresentar, a brasileira teve que ficar na torcida enquanto as rivais competiam. A outra chinesa da final, Rui Luo, também tirou 14,633, mas ficou atrás, porque Rebeca teve melhor nota de execução, critério de desempate — a nota final é a soma da nota de partida com a de execução. A preocupação passou a ser a russa Angelina Melnikova, campeã do individual geral, mas a europeia recebeu 14,533 e também ficou atrás da brasileira, em quarto.
Mais cedo, Rebeca havia confirmado o favoritismo no salto. Em duas apresentações perfeitas, tirou notas 15,133 e 14,800. Como ela foi a segunda a se apresentar, teve que ficar esperando as demais para comemorar o ouro, que acabou vindo com enorme margem. Enquanto a brasileira teve média 14,966, a segunda colocada, a italiana Asia D’Amato, ficou com 14,083. O bronze foi para a russa Angelina Melnikova, com 13,966.
Até hoje, só Daiane dos Santos, entre as ginastas mulheres do Brasil, havia sido campeã mundial, do solo, em 2003. No geral, o único com duas conquistas é Diego Hypolito, campeão no solo em 2005 e 2007. O outro campeão mundial da ginástica brasileira é Arthur Nory, campeão da barra fixa em 2019, que nem passou para a final em Kitakyushu, onde tentou defender o título. Arthur Zanetti ganhou o ouro nas argolas em 2013, no mundial da Antuérpia.
Desde 1996 um Mundial não era disputado em ano olímpico, o que acabou sendo necessário devido ao adiamento da Olimpíada e da insistência da Federação Internacional de Ginástica ( FIG) em organizar o Mundial no Japão em meio à campanha do japonês Morinari Watanabe pela reeleição como presidente. Pela proximidade de datas com a Olimpíada, a competição está esvaziada dos principais nomes da modalidade, com poucas exceções, notadamente Melnikova, Rebeca e o japonês Hashimoto, campeão do individual geral na Olimpíada.
A confederação brasileira, porém, optou por não fazer testes e só levar os três ginastas que considerava que tinham chance de medalha: Rebeca, Nory e Caio Souza. Mas, já no Japão, a comissão técnica optou por poupar Rebeca da prova de solo, em que seria favorita ao pódio e candidata ao ouro. A brasileira, de 22 anos, tem três cirurgias de joelho e só havia participado de um Mundial na carreira, e voltando de lesão. Como ela vinha relatando dores, a comissão preferiu não arriscar.
Por não competir no solo, ela não disputou a prova do individual geral, que soma o resultado dos quatro aparelhos, e na qual foi prata em Tóquio. No Mundial, ela precisaria de uma série relativamente simples no solo, para os padrões dela, para ganhar o ouro no individual, que ficou com Melnikova, primeira campeã do individual geral que não dos Estados Unidos desde 2010.
Amanhã Rebeca compete na final da trave, sem favoritismo, ainda que tenha chance de pódio. Também amanhã, Caio Souza é azarão na decisão das barras paralelas. O ginasta de Volta Redonda (RJ) foi 13º na final do individual geral.