Crounel Marins, ator, roteirista e cineasta, filho do lendário José Mojica Marins, ícone do cinema de horror brasileiro lembrado pela inesquecível figura do Zé do Caixão teve a oportunidade de ler o roteiro do longa Pecado Vermelho e ao final escrever uma resenha. Vale a pena conferir! PECADO VERMELHO: Abaixo e Acima do Equador Às vezes esperamos anos por uma obra artística, um show da Broadway, o novo álbum de uma banda do coração, um filme … É o que ocorre com Pecado Vermelho, que sob a batuta de Bellamir
Freire traz à vida a história de Mácximo Bóssimo, sobre amor e destino.
Um filme que já justifica outro filme, que retira uma dificuldade em realizar um trabalho artístico de primeira linha no Brasil, em que falta de recursos e compensada pela competência, criatividade e solidariedade. Solidariedade sim, porque para um final feliz, muita gente tem que se comprometer, atores, técnicos, associados … Final feliz para o projeto, pois o do enredo, só nos últimos minutos o espectador saberá! O suspense do filme liga-se ao fantástico, às coisas tramadas num outro mundo, no qual desempenhamos um simples papel de marionetes.
Ao mesmo tempo, a discussão sempre atual, de como, através do livre arbítrio, do propósito, podemos cortar e emendar de forma diferente da malha do destino. Afinal, até onde o ser humano pode chegar, na busca do amor e da remissão dos seus pecados? Era uma discussão que tinha com meu pai, José Mojica Marins. Dava razão para ele, ao defensor que temas brasileiros considerados mais explorados, principalmente os sobrenaturais; nosso folclore é multifacetado, e especialidade intrigante. Mas eu defendo que alguns temas são universais, não pertencem a um ou outro país, nem a regiões ou hemisférios.
São tão universais que as situações aparecem, com como mudanças, em culturas que nunca tiveram contato entre si. A noção de pecado existe em todo lugar. Algumas particularidades mudam, mas como semelhanças são mais fortes. O pecado se dá contra algo que é maior do que nós, e pode ser tanto algo fundamental, como tirar a vida de um semelhante, ou aparentemente ingênuo, como a falta de atenção ou mesmo uma amarga coincidência envolvendo potestades. Ver deuses nus banhandose, por exemplo, já foi motivo para punições míticas. E entre mito e história, um dos motivos para uma sentença mortal contra Sócrates foi o desrespeito aos deuses! O herói de Pecado Vermelho é João Pedro, interpretado em seu momento adulto por Pedro Pauleey, num desempenho marcante. Por que herói? Por
que luta com grandes dimensões que dele, sem entregar os pontos, por que amadurece com sofrimento, e se transforma, assumindo muitas vezes a forma que renegou.
Contudo através do seu sofrimento, também liberta quem o acompanha, quem assiste sua sina. O filme, recheado com brasilidades autênticas, miscigenadas como é o povo brasileiro, incorporando elementos afros e profecias ciganas ao estilo de vida do nosso interior, candente e pudico ao mesmo tempo, moralista e libertino conforme o momento, o espectador numa espiral de emoções , que culmina numa viagem pelas Américas, num torvelinho que envolve sul e norte, com as mesmas motivações. Se ainda não é possível no filme por inteiro, o que encontramos na internet indica a excelência do trabalho de direção e do desempenho dos atores, numa obra que deve atrair muitas vezes nas opiniões, já que o tema do pecado sempre tem o condão de, mesmo incomodando, excitar o pensamento. E, afinal de contas, quem ainda não pecou, que atire a primeira pipoca! CROUNEL MARINS Pecado Vermelho A história de João Pedro (Pedro Pauleey) nos leva a pensar em nossos medos e inseguranças e, acima de tudo, nos ensina a palavra respeito. Respeito ao próximo, como crenças alheias e a própria vida.
A história começa numa estação migratória da Cidade do México onde João Pedro recebe a visita do bondoso Sr. Dompson (Isaac Bardavid) e no Morro Do Além, no interior de Minas Gerais. João Pedro está preso a dois mundos, um comandado por uma misteriosa cigana e outro pelas memórias do passado dele, na prisão do México. Todo seu passado passa por algumas horas de narração na primeira pessoa. Uma história surpreendente, contada pela Cigana (Carol Hubner), em que o público se prende entre o passado e o presente de
João Pedro. O mineiro João Pedro jamais poderia imaginar que a sua infância turbulenta e seu amor por Marinete (Jana Torres) viesse a transformá-lo num aventureiro e o levasse a se atirar de corpo e alma na busca por um grande amor. Sem nada, coloca os pés na estrada e vai desbravar o mundo, sem imaginar que o perigo rondava seu destino. Sonhava com fronteiras abertas, livres, mas encontrou a delinqüência habitual nessa costumeira travessia para os Estados Unidos. Não distante de uma realidade, a vida de João
Pedro poderia ser a de qualquer brasileiro. Mácximo Bóssimo, autor e roteirista, soube como amarrar as conturbações de seu percurso. Como a vida de muitos brasileiros. João Pedro, apesar de seu aspecto ímpar.
Créditos: Maria Emília Genovesi